Quando o sofrimento vira doença ?
As privações, as dificuldades, os eventos estressantes fazem parte da vida e provocam sofrimento. Ao longo da nossa existência nos “treinamos” para lidar com eles. Viver sob o efeito de eventos estressantes constitui a experiência humana. A história da humanidade é uma história de resiliência.
Nos últimos 20 anos, a neurociência está nos possibilitando entender este processo.
Já sabemos que os eventos estressantes (estressores) podem provocar alterações moleculares e/ou celulares em nosso organismo, e que dependendo da duração (horas, dias, semanas, meses ou anos), da intensidade e da magnitude do evento estressor, poderá ocorrer uma doença.
Frente ao evento estressor (sofrimento) haverá uma resposta adaptativa que envolverá diferentes sistemas funcionais, particularmente os sistemas nervoso, endócrino e imune. É o que chamamos de resposta ao estresse.
Quando, após esta resposta, conseguimos voltar ao equilíbrio destes sistemas, recuperando a homeostase, lidamos bem com o evento estressor. Porém, se não conseguirmos ter uma boa resposta e não recuperamos o equilíbrio destes sistemas, adoeceremos.
Se esse sofrimento e estresse forem muito duradouros, ocorrerão alterações mais sérias dos nossos sistemas funcionais, como aumento da perda celular, aumento de atrofia neural, diminuição do volume de estruturas cerebrais (por exemplo, do hipocampo), diminuição da função e da conectividade neural. Ou seja, alterações morfológicas e de tecidos que irão levar aos sintomas, ao adoecimento, à eclosão de um transtorno físico e ou de um transtorno mental.
Estas alterações podem ocorrer em qualquer etapa de nossas vidas, da infância até a vida adulta e terão a contribuição dos fatores genéticos e do ambiente.