A construção da saúde mental
Esse é um tema vasto e complexo que abrange aspectos filosóficos, culturais, religiosos e científicos e que abordaremos aqui do ponto de vista da consulta psiquiátrica, cuja demanda geralmente ocorre num momento de ruptura do equilíbrio, causando insegurança pessoal e muitas vezes repercussões de natureza física, social, profissional ou afetiva.
A consulta certamente é um momento importante em que a escuta atenta e treinada e os questionamentos pertinentes por parte do profissional buscam identificar o evento emergente e situá-lo no contexto de vida individual.
Comumente não nos ocupamos em pensar sobre a construção da saúde mental. Talvez até pelo preconceito que ainda permeia esse tema.
Aprendemos a associar os sintomas físicos, como dor, febre, náusea a alguma disfunção dos nossos órgãos internos e quando localizamos o problema, fica mais fácil procurar ajuda médica. Porém, quando aparece um sintoma mais subjetivo, que altera a forma de nos relacionarmos, de trabalharmos, temos dificuldade para relacionar isso com o nosso cérebro.
Muitas vezes, uma alteração na química de nosso cérebro pode estar causando sintomas, limitações e/ou sofrimento, em consequência de algum desajuste, seja um estresse, o uso de alguma substância ou a manifestação de alguma outra doença física.
Durante uma consulta com o profissional de saúde mental, busca-se saber como aquele cérebro se desenvolveu desde a gestação, como foi o nascimento, se existem aspectos genéticos ou familiares relevantes, como foi a infância e a vida escolar, quais os traços da personalidade, como é a nutrição, se há ou houve uso ou abuso de substâncias lícitas e ilícitas, se ocorreram situações traumáticas e como está a saúde geral, por exemplo.
Todos esses elementos têm sua importância na construção da saúde mental, e devem ser detalhados para que possamos identificar alterações e restabelecer a normalidade. Os exames complementares serão pedidos e fazem parte da investigação clínica, embora atualmente a maioria dos transtornos mentais ainda não se evidenciem através deles.
O cérebro é um órgão muito complexo e pouco acessível laboratorialmente e, apesar dos avanços da ciência, ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas.
Com os dados disponíveis e com base na neurociência, o psiquiatra busca correlações entre os sinais e sintomas e as prováveis disfunções neuroquímicas cerebrais, indicando, se necessário, medicamentos que possam restabelecer o equilíbrio funcional e melhorar os sintomas.
Não é raro que a recuperação demore meses para acontecer, sendo fundamental o bom relacionamento entre o médico e o paciente para que esse processo possa ocorrer.
Muitas vezes faz-se necessário o acompanhamento psicológico, nutricional e esportivo para se restabelecer a saúde mental, requerendo um esforço consciente nessa busca.
A construção da saúde mental se alicerça, conforme pensamos, na aceitação e valorização da própria identidade, tema que abre as portas para que possamos nos conhecer melhor e promover as mudanças essenciais que resultem em boas escolhas e numa vida com mais harmonia.